RECADO PARA TRÊS CARAMELOS QUE NOS "FODEM" A VIDA
Um caso grave de tortura em Portugal
José Goulão |
8 de Outubro, 2013
8 de Outubro, 2013
Os acontecimentos dos últimos dois anos demonstraram
que o governo da República Portuguesa, tutelado pelo conluio de credores
formado pela Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o FMI, vulgo troika,
é capaz de tudo para obrigar o povo a pagar a ganância dos agiotas
internacionais.
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As últimas notícias confirmam que quando se escreve “capaz de
tudo” não é, neste caso, uma frase feita, uma muleta de retórica. É mesmo tudo,
incluindo torturar o povo.
Torturar o povo?
Não será exagero do escriba?
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Não é. Encontram outra interpretação para a intenção manifestada
de cortar nas pensões de sobrevivência dos viúvos com a finalidade de financiar
bancos, bolsas e especuladores que se alimentam da dívida portuguesa, jogando
com ela a juros cruéis?
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A expressão “pensão de sobrevivência” é eloquente:
sobrevivência, um montículo de migalhas para acudir à montanha de custos e
encargos que todos os dias se ergue no horizonte dos cidadãos mais
desfavorecidos.
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Pensões de sobrevivência são os rendimentos das viúvas e viúvos de Portugal, a
quantia, na maior parte dos casos em formato de esmola, de que dispõe o cidadão
que ao perder o cônjuge perde igualmente grande parte do rendimento familiar.
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A
pensão é o resíduo que o sobrevivente recebe do que o companheiro descontou durante
a sua vida de trabalho.
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O governo de Portugal, no rescaldo de uma visita dos esbirros da
troika, parece então disposto a assaltar as pensões de sobrevivência dos
portugueses na sua estratégia de procurar “aqui e ali”, como ameaçou o
Vice-Primeiro Ministro Paulo Portas, os milhares de milhões necessários para
pagar uma dívida impossível de pagar e que não se deve, por certo, a desmandos cometidos
pela maioria dos portugueses, mas sim pela elite que os assalta.
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O que se poupa atacando as pensões de sobrevivência? Uns trocos
inúteis (100 milhões de euros, só os juros do primeiro resgate são 38 mil
milhões...) perante a imensidão de uma dívida que chega aos 130 por cento do
PIB e que, por alturas do início da intervenção da troika, precisamente para
pagar essa dívida, estava à beira dos 90 por cento do PIB.
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Nesse tempo, dizia o Presidente da República, tal dívida era
“insustentável”. Hoje, 40 pontos percentuais acima desse nível, tornou-se
“sustentável”, segundo o Presidente da República, que por sinal é o mesmo –
Aníbal Cavaco Silva.
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Uns trocos retirados a rendimentos reduzidos, em muitos casos insultuosamente
miseráveis, que são inúteis contra a dívida mas que, para muitas e muitas
vítimas, representam a fronteira entre a sobrevivência e a morte lenta, entre a
saúde e a doença, entre um mínimo de dignidade e a humilhação.
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Trocos que, além disso, simbolizam a infâmia do comportamento
que é confiscar os legados que os cidadãos mortos deixaram às famílias e ao
país.
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Diz o já citado Presidente da República que os portugueses, esmagados pelo
regime de austeridade, são “masoquistas” por insistirem em dizer que não é
possível pagar a dívida.
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Ora o assalto às pensões das viúvas e viúvos de Portugal, que
não resolve problema algum na situação actual do país, é por isso um caso
de punição gratuita e vingativa, com o requinte de ser uma tortura de aplicação
lenta.
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